quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Para além do bem e do mal


Era uma vez um garoto sonhador, que cresceu em um mundo controlado por um deus muito bondoso, mas que mandava para o inferno eterno todos aqueles que o desobedeciam. Esse deus havia criado tudo que cercava essa criança, todas as coisas. "Mas se deus criou todas as coisas, quer dizer que as coisas ruins também foram criadas por ele?" questionava sempre o menino. "Não, quem criou as coisas ruins foi o inimigo do deus" respondiam muitas pessoas "entendidas" do assunto. "Ok. As coisas ruins vêm do inimigo. Mas deus não criou ele também?" Nessas horas sobrancelhas da repreensão terminavam com a conversa.
E assim sucedeu-se. A criança foi crescendo neste mundo, seguindo os princípios deste deus, para no fim, não cair no inferno, um lugar terrível e de muito sofrimento. Anos se passaram e a criança, agora adolescente, encontrou uma forma confortável de lidar com isso, embora algumas coisas ela não entendesse. Desde muito novo, o menino tinha sonhos, sonhos grandes, mas que iam de encontro às vontades do bondoso deus. O que fazer com isso? Será que os sonhos não fazem parte do fenótipo da criança? Não seriam esses sonhos resultados da combinação de genes herdados? "Não. esses sonhos são vozes do inimigo".
Apesar disso, a vida do jovem garoto não deixava de ser uma aventura. Uma luta constante contra seres do mal, que tentam possuir teu corpo e destruir tua vida... vai dizer que isso não é excitante? Tá certo que o menino não podia controlar os elementos da natureza, nem levitar, mas podia dissipar as trevas com o poder da oração. O clássico priest.
Por mais alguns anos, a função de priest foi exercida e a luta contra o mal continuou. O garoto fazia parte de um grupo de soldados da luz que se reuniam para lutar contra o inimigo.
O mundo ao redor do jovem não importava. Ele não tinha muitos amigos, pois a maioria estava possuida pelas trevas. Trevas atraem trevas. Ele vivia num oasis, cercado por um gigantesco e árido deserto, que transpassava o horizonte. A vida no oásis era boa, mas não era suficiente. Talvez não houvesse nada além do deserto. Além do mar de areia, segundo a lenda, residia o reino das trevas. Muitos diziam ter ido até lá. Alguns voltaram com vida. Outros infelizmente não tiveram a mesma sorte. Mas não importava. Ele queria saber o que havia depois desssas terras. Ele não se conformava só com aquilo.
E então, em um ato de coragem e rebeldia, o garoto abandonou a terra abençoada e seguiu rumo ao desconhecido. Era claro, para os outros priests, que ele não ia resistir, que seria devorado pelo fogo. Mas ele não se importou e caminhou.
Durante anos, apenas caminhou no deserto aparentemente infinito. Não foi fácil. Calor durante o dia, frio durante a noite, criaturas perigosas e muitos saqueadores e enganadores. Mas o garoto não desistiu. Já não dava para voltar ao oásis. E continuou a andar.
E assim a aventura, do agora homem, continua, em busca do mundo além das areias. Ele tem esperanças. Não encontrou algum paraíso, mas também não avistou a torre do senhor das trevas. E embora tortuosa, ele se sente livre, capaz, maior e mais poderoso do que antes, pois ele conquistou sua liberdade, o poder de voar, não entre as nuvens, mas para além da imaginação, para além das amarras, na tentativa de encontrar o caminho para além do bem e do mal, pois tanto o bem quanto mal atrapalharam o jovem, durante muitos anos, a explorar o mundo real.

4 comentários:

Anonymous coward disse...

Eu também cresci numa família religiosa e depois superei isso. Mas não foi tão épico assim. Foi mais nas linhas de "você pode me passar a manteiga? e, a propósito, eu não vou mais à igreja".

Lauro Acosta Júnior disse...

heheheheh

No meu caso foi épico sim, pois eu estava mergulhado naquele mundo, acreditava e praticava. Foi difícil ver a luz, mas consegui.

Angelo Franco disse...

... e que fique claro que eu não tenho nada a ver com isso, embora fique muito orgulhoso!

Lauro Acosta Júnior disse...

hehehehe o angelo foi o sábio do deserto

aguardem cenas dos próximos capítulos hehehe