terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Nigredo


Ninguém nasce sabendo. Ninguém sabe a hora certa de mudar. Ninguém nasce mudado. No momento zero, no planeta Terra, somos uma página em branco. Uma página não, um livro. Alguns se limitam a serem apenas um livro infantil, de no máximo 20 páginas, letras granes, palavras simples, muitas figuras. Outros preferem ser enciclopédias, tratados, coletâneas. Não importa quantas páginas, mas sim o conteúdo, certo?
Naturalmente, ou não tão natural assim, as mudanças vêm. Muitas vezes é preciso permiti-las acontecer, outras vezes, elas nos acometem de uma maneira tão abrupta e irreversível. Será que alguém passa a vida sem sofrer alguma mudança? Não digo mudanças pequenas, mas aquelas que mudam o foco e o enredo da "história" que vai sendo escrita. Palavras, frases, textos são escritos com suor, sangue, lágrimas, sons, ruídos.
Dizem que é preciso perder algo para que se possa ganhar. As coisas só são valorizadas após o caos das crises. Rumos são construídos após desnorteios. Antigamente, acreditava-se que para uma pedra virar ouro, ela precisava passar por várias etapas, que permitiam a destruição do arranjo molecular da pedra e garantiriam a reestruturação molecular, tornando-se mais rígido e valioso. Putz, ouro é ultrapassado. Diamante então! O diamante é muito mais valioso e mais rígido e é composto apenas de ligações de carbono, o mesmo carbono que forma o grafite. Para transformar grafite em diamante seria necessário condições de transformação dificéis de se manter: 50000 atm a 800o C, para uma transformação lenta, ou temperaturas e pressões ainda mais altas, para transformações rápidas.
Mudanças são difíceis de se entender e acompanhar. Verdadeiras mudanças levam tempo para acontecer, talvez uma vida toda. Se é preciso perder, para poder ganhar, seria o "fundo do poço" um catalisador para essas transformações? Transformações que nos garantiriam mudar a conformação de pensar e ver o mundo, de grafite para diamante, ou também, de diamante para grafite.

2 comentários:

Anonymous coward disse...

Lauro, você realmente acha que grandes emoções vêm de palavras grandes? Dito isso, a vida não é um jogo de soma zero; ou, no mínimo, não precisa ser. E já que você gosta tanto de analogias químicas, tente mudar o foco da sua análise, e veja as coisas do ponto de vista da entalpia, e da entropia. A posição de menor energia é a mais estável, não é? Faz você pensar se transformar grafite em diamante vale tanto a pena assim - especialmente quando o valor de cada coisa está nos olhos de quem vê. Mas o que é que eu sei de diamantes? Eles não vêm da Antuérpia ou algo assim?

Lauro Acosta Júnior disse...

Eu só levantei suposições, não necessariamente concorde com todas elas. O que importa não são o número de palavras ou páginas, mas o significado que você dá a elas. às vezes esforços valem a pena, e ás vezes não. Para algumas pessoas, se submeter a 50000 atm a 800ºC para alcançar uma mudança. Para outras, basta permanecer na forma mais estável, independente da estrutura que isso resulte. Como você mesmo disse, o valor está nos olhos de quem vê. Não defendo que sempre tenhamos que nos submeter à essas situações extremas, mas muitas vezes é necessário.